Indicativos de retomada já são percebidos, mas setor requer atenção
A indústria corresponde a um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 14,53 bilhões, o que representa 12% do município de Ponta Grossa. Em virtude disso, a pesquisa realizada na segunda quinzena do mês de maio de 2020 pela Câmara Técnica Permanente de Comércio e Serviços, do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Ponta Grossa (CDEPG) em parceria com o Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas (Nerepp), do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) incluiu este setor que impacta diretamente em toda a economia do município. Os indicativos são de retomada, mas ainda são grandes os desafios.
Cerca de 15% dos estabelecimentos respondentes da pesquisa corresponderam às indústrias. Analisando a dinâmica do faturamento dessas indústrias tem-se uma queda média equivalente a 31% no mês de maio, ressaltando que no mês de abril essa queda foi mais acentuada, o que pode indicar uma expectativa positiva. Importante destacar que 33,3% das indústrias pesquisadas conseguiram manter sua receita, especialmente por se tratarem, em boa parte, de empresas essenciais.
Segundo a pesquisadora do Nerepp, Augusta Pelinski Raiher analisou-se acerca dos impactos que a indústria sofreu desde o começo da pandemia, inferindo a queda no faturamento como o principal item. “Porém, outros fatores também foram citados como a inadimplência dos clientes (15,7%), paralização da produção (14,9%), cancelamento de pedidos e falta de matéria-prima (10,4%)”, explica a economista que aponta que somente 0,7% das indústrias não sentiram nenhum impacto com a crise.
A pesquisa registrou a dificuldade de se conseguir comprar insumos industriais, especialmente de se importar. Este foi um dos pontos inibidores da produção secundária na região, pois em apenas 5,8% das indústrias não tiveram algum problema neste aspecto devido a pandemia. “A elevação dos preços por conta da baixa oferta e a própria dificuldade de importar, a qual também está relacionada com a fraca oferta internacional, foram responsáveis por mais de 50% desse impacto relatado pelos industriais”, explica a vice-presidente do CDEPG, Priscilla Garbelini Jaronski, que é também diretora executiva da Casa da Indústria, do Sistema FIEP em Ponta Grossa.
O estudo aponta que cerca de 48% das indústrias pesquisadas são exportadoras, e destas, 50% tiveram queda nas suas receitas, destacando 5,6% que destacaram que essa queda no faturamento correspondeu a mais de 60%. Porém a pesquisa aponta que a queda das exportações foi o principal ponto apenas para 8% dos estabelecimentos, o que demonstra que, embora a retração da demanda internacional seja um impulsionador da crise econômica local, a queda da demanda interna ainda é a principal mola indutora da crise nas indústrias de Ponta Grossa. “Cabe ressaltar também que no mês de abril e maio, se teve as maiores desvalorizações cambiais dos últimos anos, cenário que, em períodos normais, afetaria positivamente as exportações”, explica Augusta.
O mercado interno também foi prejudicado. A pesquisa relata que mais de 90% das indústrias sofreram retração na sua produção, e o principal motivador foi a queda da demanda. “Observa-se um impacto maior, de modo que mais de 39% das indústrias tiveram queda no seu faturamento por uma contração da demanda interna” elucida a economista.
A indústria e o apoio do governo
A maioria das empresas já iniciaram o retorno das suas receitas, embora seja pequeno o percentual das que recuperaram 100% ou até mesmo elevaram-na, correspondendo a apenas 12%.
Além disso, mediu-se a importância das ajudas dos governos federal e estadual na passagem por essa crise e 23% das indústrias não tinham acessado nenhuma medida de ajuda. O problema apontado é que vários industriais tentaram acessar e não conseguiram. Dentre as medidas mais acessadas foram o adiamento de férias e teletrabalho, além da própria suspensão de contrato e diminuição de jornada de trabalho.
No caso dos empréstimos, apenas 7% conseguiram acessar. Já 55% tentaram acessar, mas não conseguiram. De acordo com a economista, o que mostra a deficiência dessa política, a qual tende a ser a que mais poderia ajudar na sobrevida das indústrias, considerando que neste cenário, 38% ainda esperam crédito.
Reflexo no emprego
No que se refere ao emprego, a média dos demitidos pelas indústrias pesquisadas foi de 12 trabalhadores e 33% das indústrias já efetivaram alguma demissão. Ao questioná-las sobre futura demissões se o cenário permanecer o mesmo, 49% inferiram que podem sim fazer novas demissões, com uma expectativa média de 21 postos de trabalho a menos para cada indústria.
Para Priscilla, o fato é preocupante, pois se de fato as percepções dos industriais se confirmarem, não serão apenas esses 21 empregos médios por fábrica que podem ser perdidos, mais tenderá a ter um efeito multiplicador, especialmente pelos encadeamentos que as indústrias detêm, sendo o setor com maiores encadeamentos produtivos da economia. “Nesse sentido, é necessário um olhar especial para esse setor, pois a sua retração financeira induz a efeitos multiplicadores negativos em toda a atividade produtiva e por consequência para a economia da cidade com a perda de postos de trabalho”, finaliza a diretora executiva da Casa da Indústria / FIEP.
Durante o decorrer desta semana, o CDEPG, através da Câmara Técnica Permanente de Comércio e Serviços divulgará de maneira mais detalhada os dados sobre a pesquisa. O Relatório da pesquisa sobre os impactos da Covid-19 na economia e os impactos na indústria em Ponta Grossa estão disponíveis nos endereços:
Relatório comércio e serviços
https://cdepg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/Relatorio-Con.-des.-2-finalizado-1-2.pdf
Impactos na indústria
https://cdepg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/impacto-industria-maio-de-2020-1-1.pdf